Mulheres na imprensa goianense, notas
Por: Josemir Camilo*
A Josemary Borba

Embora Goiana já dispusesse de jornais no século XIX, neles não aparece nenhuma colaboradora feminina. Somente em 1908 (segundo Luís do Nascimento), em que foi lançado o jornal A Cidade de Goyanna, propriedade de Antônio Raposo, é que, pela primeira vez, aparece uma mulher como colaboradora, Noêmia Silva.
Em setembro de 1911, Goiana lança um Manifesto assinado só por mulheres em favor da campanha de Dantas Barreto a governador. Urgiria fazer um levantamento social e profissional destas subscritoras.
Só em 1915, ao surgir o jornal A Voz de Goyanna, órgão do Instituto Nunes Machado, dirigido por Severino Correia de Araújo, que atingiu o ano de 1930 é que, em suas páginas, escreveu, também, outra mulher, Risoleta Valflor.
Com a inauguração do cine Polytheama, em 1919, novidades vindas da Europa 'civilizada' podem ter provocado impactos no público. Não sabemos que impacto no público feminino teria causado o filme "Mães Francesas" (em 7 partes), com Sarah Bernhardt, àquela altura, tão famosa por suas transgressões.
Haveria alguma relação desta exibição com o aparecimento, um ano depois, do jornal católico A Verdade, e sob a direção de uma mulher Jandira Tavares (não há notícias de outros números). A cidade tinha, então, 19.678 habitantes.
Mas continuou aparecendo a figura feminina em alguns periódico, como, em 1921 quando foi lançado o Álbum Illustrado de Goyanna, com duas mulheres como colaboradoras, Josefina Novais e Maria das Mercês de Morais Rabelo. Outra publicação, não periódica em que volta a aparecer uma colaboradora foi, em 1923, a edição panegírica em homenagem ao senador Manuel Borba, pelo Partido Democrata, com matérias assinadas por Francisco Cunha Rabelo, Augusto de Andrade, Ângelo Jordão, José César de Albuquerque, José Carlos Cavalcanti Borges (sênior), Edmundo Jordão, Falcão Filho, Maria de Lurdes Amaral, Oscarlino Tavares e Mário Rodrigues.
Não sabemos se houve alguma manifestação pública (editada) quando da visita do poeta Adelmar Tavares a Goiana, em 1927, para avaliar a presença feminina.
Se mulheres assinaram um manifesto pró-Dantas Barreto, em 1911; se, dez anos depois, uma mulher estaria entre os que homenagearam Manoel Borba; em 1930, circulou o Almanaque de Goiana, sob a direção de Ângelo Jordão, com 300 páginas, em formato de bolso, impresso no Jornal do Commercio do Recife. Colaborou a fina flor da intelectualidade masculina, da cidade: Edmundo Jordão, Domingos Vieira, Eduardo Correia, Mário Melo (do Recife), Luiz Marinho, Raul Monteiro, Hermes Fontes, Antônio Raposo, Benigno de Araújo, Múcio Leão, Honório Monteiro, Augusto Andrade, Adelmar Tavares, Laurindo Rabelo, Pedro Botelho, Veiga Miranda, Barbosa Neto e Durval Correia. Mulher, nenhuma, ou ficou no anonimato?
No entanto, já despontava no cenário das letras Iolanda Miranda (que se assinava, suponho, I.M.), no jornal O Goianense, sob a direção de Ângelo Jordão de Vasconcelos. Frequentava Iolanda aquele cenáculo de redores: Dr. Benigno Pessoa de Araújo, Edmundo Jordão de Vasconcelos, João Paulo Barbosa Lima e Antônio Raposo e contava, ainda, o periódico com a colaboração do Dr. Clóvis Fontenele Guimarães (sob o pseudônimo de Guinard Filho), José Carlos Cavalcanti Borges Filho, Domiciano Lobo, Francisco Chaves, Simplício Vieira, Oscar Siqueira, Pedro Botelho, Álvaro Guerra, Otávio Pinto, Otávio Morais, Iolanda Miranda (I.M.). Não sabemos se ela continuou até a última edição, em 1937.
Mas, não pensemos que a imagem feminina continuava em baixa. Sob a administração de Antônio Gonçalves Raposo, se inaugurou o monumento em homenagem às Heroínas de Tejucopapo, em 1931. Nesta década, politicamente, conturbada, aparece, pelo menos, uma mulher na imprensa local, embora em veículo secundário: em 1937, circulou o órgão do Centro Estudantino, O Estudante; parece ter saído apenas em duas edições, até 1938. Colaboravam o Padre José Távora, Lenira Miranda, Eginar e Aristófanes Jordão. Também secundário e de vida curta, foi o primeiro fruto público do Colégio da Sagrada Família, em 1945, quando circulou (em provável número único) o jornal Sempre Unidas, das alunas concluintes do Sagrada Família.
Isto é que pode se deduzir do livro de Luís Nascimento, cuja cronologia atinge até meados da década de 1950.
Uma retrospectiva rápida sobre o que se considera 'papel da mulher', na sociedade poderia seguir algumas pistas, como o culto que havia na década de 1880, à atriz Elmira Coelho, admirada por várias gerações de goianenses" (Analecto, VIII, 1946, p.142), quando da apresentação da peça "Júlia ou a Sedução dos Brilhantes", em 12/02/1887.
Uma década antes, Goiana seria sacudida por cenas de violência física e perseguições, quando em 1872, membros do Partido Conservador (Segundo Ângelo Jordão Filho) e 'caceteiros' - arruaceiros, 'paus mandados', espancaram comerciantes portugueses, o que ficou chamado como "Mata-Mata Marinheiro" ou "Patriotada". Alegou-se, além, do predomínio dos portugueses no comércio, que cantavam trovas ofensivas à mulher brasileira.
Retroagindo para um fato e mantendo-se o recorte de longo tempo, Goiana já teve uma Casa de Recolhimento (só feminino? Ou misto: de mulheres e de crianças abandonadas?). O 'fato histórico' e de que se conta que, em torno da revolta de 1817, o General-Governador, Luís do Rego ameaçou invadir o Recolhimento da Soledade, para prender uma mulher do clã Souto Maior, de Tejucopapo.
Há outra pista para a história das mulheres, através de uma petição feita por uma mulher. Como se sabe, mulher era impedida de escrever diretamente às Suas Majestades, a não ser a rogo, através de um homem de sua família ou funcionário público, disto encarregado. Há um registro de 1752, escrevendo de Goiana, o ouvidor-geral da Paraíba, José Ferreira Gil, informava ao rei D. José I, que requeria Maria da Paixão, de Goiana, mulher do alferes Manoel Rodrigues Sepeda, se ordenasse o pagamento que o Senado de Goiana devia ao seu marido. Uma mulher em defesa dos direitos de sua família, já que o militar não poderia reivindicar.
E, por fim, neste artigo, outra pista, esta já pública e notória, festejada, a expulsão de uma tropa holandesa das terras de Tejucopapo, em 1646, movimento liderado por mulheres, segundo consta da tradição e da historiografia.
No entanto, há um
grande hiato entre o papel da mulher (indivíduo), e o coletivo de mulheres
(gênero): um enorme campo cego a ser desvendado com novas pesquisas
historiográficas.
*Prof. Doutor em HISTÓRIA
